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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Escrevi, mas não não mandei, não disse, não fiz nada.

Em resposta ao seu convite:


Hoje não vai dar pra te ver.

Eu sei, eu sei. Há meses que venho te prometendo uma noite especial, um jantar especial, você e eu, lá em casa, naquele cantinho que você já considera até seu. Comprei até uma lingerie nova, sabia? Linda, você ia amar. A gente ia amar. Ia se amar até amanhecer.

Mas hoje não vai dar pra ser. Nem amanhã, nem depois. Não dá pra ser nunca mais.

Não, não é nada com você. É comigo. Não, não é aquele papo brega não. Não foi nada que você fez. Foi o que eu não fiz, e o que eu fico pensando em como seria se eu tivesse feito.

Tem algumas coisas que eu nunca lhe disse.

Eu não lhe disse como foi difícil ouvir suas histórias. Dar os conselhos que você pedia.

Como quando você me disse que queria começar de novo, com outra pessoa. Que não queria casar, que pra assumir um filho não era necessário um casamento. E eu disse pra você voltar pra ela, quando o que eu mais queria era que você se desse a chance de recomeçar comigo.

Recusar seus convites tentando não me envolver mais, com seus amigos e sua família. Fingir que naquele dia, depois daquele passeio de barco, quando você me arrastou pra conhecer seus pais, eu não queria estar ali. Eu me senti em casa, ajudando sua mãe na cozinha, jogando sinuca com seu pai. Eu fingi que não percebi que você estava querendo aprovação da sua família.

Fingi que não ficava louca de felicidade quando você me ligava mesmo quando eu estava a quilômetros de distância, somente pra ouvir minha voz, pra rirmos de besteiras juntos.

Que não gostava quando você falava que eu era sua namorada.

Que não percebia que você sentia ciúme de mim. Que meu coração não se enchia de alegria quando as pessoas olhando pra nós diziam que a gente combinava, que nunca ninguém viu alguém mais certo pra você do que eu.

Fingir que você era só sexo. Que eu cairia fora quando eu quisesse. Que eu sabia brincar.

Eu desci pro play, mas não sei brincar. Eu me apaixonei por você naquele dia que eu te conheci, naquela tarde de carnaval. Eu te desejei por todos os poros desde aquele momento em que saímos daquele bar e você entrou no meu carro. E de lá fomos pra outro bar, e outro e outro. Quando você me beijou no sinal de trânsito e deixou seu carro descer e bater num ônibus. E continuou me beijando, até que, contra todas as minhas regras, contra todos os meus pudores, terminasse na cama o que desejamos desde nosso primeiro olhar.

Eu me apaixonei e me arrependo de não ter nem me permitido chorar no dia do seu casamento.

Achei que se não admitisse essa paixão nem pra mim mesma, ela não existiria. Acredita que até hoje não admito que estou apenas esperando que as profecias de quem te conhece se cumpram, e o seu casamento acabe antes de completar seis meses?

Você era pra mim. Eu vivo com a sensação de que cheguei tarde na sua vida, que era comigo que você ia poder ser esse menino que você é e que tem que esconder, que tem vontade de curtir a vida, as baladas, os amigos. Mas o tempo não volta, filhos não se desfazem e casamentos não acabam sem que se esgotem primeiro todas as remotas possibilidades de dar certo.

E é por isso que hoje não dá pra te ver. Hoje eu resolvi assumir o que eu sinto. Era o que estava faltando para eu poder começar a te esquecer. Se eu não lutei por você antes, não é justo que eu lute agora. Não fui mulher pra isso. Mas também, que tipo de homem você foi?

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Mais uma carta pra coleção do "Escrevi, mas não mandei." Na verdade, o convite de Mr Commited teve uma resposta, mais resumida. Beeeeem mais resumida. Tipo: "Não dá."
Eu tinha vontade que ele soubesse de algumas dessas coisas que escrevi. Mas sem que eu precisasse dizer.

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