A gente às vezes se acha tão importante, tão centro do mundo, que somos capazes de em questão de segundos, decidirmos qual a pena que cabe a quem nos magoa. Assim, pá pum.
Nos colocamos no lugar de Deus e decidimos que Fulano merece ser castigado durante duas semanas, não vamos ligar, não vamos escrever, vamos ignorar, colocar na geladeira o Fulano que nos magoou.
Vocês devem lembrar daquela minha amiga que sabia que a mulher de Mr Commited tava grávida pela segunda vez em tempo recorde no Brasil e nem me contou, esperou que ele me contasse. E ele contou, depois de me comer, é claro.
Pois bem, eu decidi que ela merecia passar uns tempos na geladeira. Talvez a vida toda. Mó gelão, um alasca inteiro pra ela. Ela ligou pra saber por que eu andava distante, disse que sentia minha falta e eu fingi que nada estava acontecendo, aquele papo "é a correria do dia à dia" e sumia de novo.
Hoje soube que o pai dela faleceu. O pai, que era tudo pra ela. Peguei o telefone e liguei pra ela. E do outro lado, pude sentir o conforto que minha voz deu à ela, logo que ela desatou a chorar e falar:
- "Ô nega, eu só me lembrava de você, das coisas que você me dizia, eu tenho sentido tanto sua falta, ando sofrendo tanto e você longe de mim, precisando tanto de você..."
Eu comecei a chorar também. Eu andei esquecida de como tantas vezes ela me ajudou, me acolheu, me divertiu, me ouviu. Esqueci de tudo, por que uma única vez ela pisou na bola comigo. Porque que a gente é assim? Fui ao enterro à tarde, ainda me sentindo meio estranha com barreira que eu havia colocado entre nós. E ela estava lá, quando me viu, abriu os braços e me abraçou, agradeceu por eu estar ali do lado dela e disse de novo que sentia minha falta.
E eu fiquei ali até o final, sem dizer muita coisa pois não cabia, me recriminando por negligenciar alguém que eu já tinha até esquecido do quanto eu gosto.
Eu detesto ser tão intolerante.
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